12 de abril de 2010

Geo-Raid Lousã - Aldeias do Xisto - Dia 1

Quinta-feira, dia 8 de Abril, o Team BTTHAL (João Valente e Fernando Micaelo) (agora está na moda utilizar-se “Team”!!!), partiu rumo à vila da Lousã para enfrentar o desafio a que nos tínhamos proposto: Percorrer os trilhos do Geo-Raid Series - Lousã (Aldeias de Xisto), em completa autonomia… Tão simples como isto… ou talvez não!

Ficámos alojados na modesta Residencial Bem-Estar, que serviu perfeitamente para o merecido descanso entre as duas etapas. Uma Residencial situada no coração da vila e com a possibilidade de guardarmos as nossas bikes numa das dispensas, eram factores importantes para a nossa missão. Aliado a um preço excelente… ditou a nossa escolha por este estabelecimento.

Geo-Raid Lousã - Dia 1

O dia prometia um turbilhão de emoções… ia ser um dia (bem) longo! 7:50, já marcávamos presença na sala do pequeno-almoço para acumular as primeiras energias do dia! Às 8:00 exactas estávamos a sair da Residencial, devidamente equipados com as cores BTT@Castelo Branco e montados nas (lustrosas) Trek 9.8 Elite… começava para nós o Geo-Raid da Lousã!

É inegável… estávamos ambos apreensivos com o que iríamos encontrar ao longo dos 99Km’s de track deste dia. Estávamos a pedalar em território virgem (para nós)… e a dificuldade anunciada dos quase 3000 metros de acumulado fazia-nos manter o respeito por esta etapa! Ainda assim o espírito de equipa era um trunfo a nosso favor, para além de termos a consciência de ter pensado em mil e um pormenores antes de embarcar na aventura! Foi de facto uma aventura inesquecível…

Quem percorre as ruas da acolhedora vila da Lousã, não pode ficar indiferente à omnipresença da serra que a envolve em todo o seu redor e o apelo para a descoberta das suas encostas e recantos é irresistível! A saída da vila é feita desde logo em subida alcatroada rumo aos pontos mais altos da Serra da Lousã. Pedala-se em piso macio e começa-se a vislumbrar lá em baixo os telhados laranjas da Lousã… pequeninos, estamos na cota dos 600 metros de altitude!

O track lança-nos fora do macio alcatroado para nos embrenharmos em caminhos densamente arborizados, com um piso técnico respeitável, e em pendente ascendente… estávamos a percorrer os trilhos do Geo-Raid e a dificuldades andavam par a par com a beleza do local. Muito verde, denso, e água…gemendo por todo lado! Até ao Km 13 a pendente foi quase sempre ascendente com um ou outro troço mais plano para alívio das nossas pernas!

Passámos ao lado do Vale da Nogueira para depois encetarmos uma larga descida entre pinheiros de copa alta e piso pedregoso que nos levaria à 1ª das Aldeias do Xisto que visitámos neste dia - Gondramaz. É difícil, abstrair-nos da grandiosidade e beleza do vale onde estamos a pedalar… mas o piso bastante irregular obriga a uma atenção redobrada. Um azar iria comprometer toda a aventura! E nós não estávamos dispostos a isso!

Com cerca de 19Km’s percorridos, a presença de frondosos castanheiros anuncia-nos a entrada em Gondramaz, situada na vertente ocidental da Serra da Lousã. Percorreremos algumas das suas ruas e testemunhamos a beleza da arquitectura desta aldeia e o magnífico trabalho de recuperação de que foi alvo. Não vimos viva alma! Gondramaz distingue-se pela tonalidade específica do xisto que nos envolve da cabeça aos pés. Até o chão que se pisa é exemplo da arte de trabalhar artesanalmente a pedra. Muito Bonito! A paisagem que envolve Gondramaz é uma obra de arte da Natureza… aproveitámos este quadro e efectuámos uma pequena paragem para abastecimento de sólidos… à porta da igreja (abençoados)!!!

De Gondramaz, subimos novamente à cumeada para nos começarmos a aproximar dos “monstruosos” aerogeradores que povoam os parques eólicos da Serra da Lousã. Foram cerca de 6Km’s a subir, para vencer os cerca de 400 metros de desnível e atingirmos a barreira dos 1000 metros. Estávamos no topo do mundo! A dimensão da paisagem envolvente é arrebatadora! Os caminhos largos de gravilha esbranquiçada perfilam-se formando “serpentes” por entre o terreno mais escuro! Soberbo! Magnífico!

Da cota mais alta deste dia iríamos descer por vários Km’s até à Praia Fluvial da Louçainha, cruzando várias mini-barragens do Rio Alge e um misto de vegetação em tons de amarelo e roxo… tão típicos desta época primaveril! Estávamos mergulhados no mundo mágico da Serra da Lousã, quando…avistámos por entre a vegetação luxuriante 2 veados machos e mais adiante um grupo de fêmeas! Aqui reina a natureza selvagem, sensível e que pede respeito. O BTT proporciona-nos momentos como estes… Muito Bonito mesmo!

Da Louçaínha até S. João do Deserto percorremos cerca de 7 km’s numa subida constante com pisos e inclinações muito variadas, passando por Malhada Velha, Bajancas Cimeiras e Traquinai.

Estávamos a caminho da segunda Aldeia do Xisto - Ferraria de S. João…com quase 40Km’s de percurso percorrido! Tínhamos como princípio comer +/- de 20 em 20 Km’s afim de nos anteciparmos sempre à sensação de fome e assim pouparmos recursos essenciais neste tipo de longa distância! Efectuámos nova paragem a 2Km’s de São João do Deserto para abastecer… tínhamos à nossa frente a Serra de S. João… uma vasta área de terreno montanhoso totalmente desbravado pelos madeireiros! Trilhos muito sujos, com imensos paus… potenciais causadores de acidentes! Mais uma vez o cuidado foi redobrado! Apesar do terreno estar desprovido de vegetação… a paisagem assumia uma dimensão enorme e com ela uma beleza invulgar!

Ainda antes de entrarmos nos limites da Aldeia do Xisto - Ferraria de S. João, o GPS indicou-nos o caminho de um single-track entre rochas… e em descida… óptimo para aumentar os níveis de adrenalina, com algumas passagens muitos técnicas… excelente para a fotografia! Ferraria de S. João, aldeia alcandorada na crista quartzítica no extremo sul da serra da Lousã, tem como ex-líbris os antigos abrigos dos animais. Aqui descobre-se como o xisto e o quartzo se casam numa união tão perfeita e singular… efectuámos paragem para abastecimento de líquidos e para contemplar o Centro de BTT das Aldeias de Xisto que ali está sediado. Na verdade, demo-nos conta do investimento que os municípios e associações têm feito na recuperação da serra e criação de infra-estruturas apelativas ao turismo. Excelente!

Daqui até à “vizinha” Aldeia do Xisto - Casal de S. Simão esperava-nos uma longa descida, que termina no vale sob o viaduto da IC8, onde nos esperava mais uma verdadeira “parede” até às proximidade do Casal de S. Simão. Aldeia de Xisto, de apenas uma só rua, com uma fonte que continuamente entoa a canção da água! É um autêntico refúgio de pedra de uma beleza extraordinária! A Aldeia é magnífica e o apelo a ficar mais um bocadinho é irresistível… mas o tempo urge e o caminho tinha de prosseguir! Percorremos a descida técnica que nos leva às Fragas de S. Simão. A beleza deste desfiladeiro onde o Rio Alge corre entre enormes paredes de quartzito surpreende qualquer um! Estávamos em delírio absoluto! Um hino à fotografia digital! Eu (João Valente) e o meu Amigo Fernando Micaleo estávamos a viver um dos melhores momentos de BTT… de sempre!

Em êxtase… naquele vale profundo, atravessámos a ribeira pela ponte pedonal e depressa regressámos à dura realidade do Geo-Raid… uma subida íngreme e longa até ao Miradouro onde se podia contemplar toda a magnitude daquele maciço rochoso. Sem palavras! A subida alivia até ao Km 60, que culmina com a Aldeia Ana de Aviz, ponto onde efectuámos a paragem mais longa do percurso para abastecimento de sólidos no Café Branco. Eram cerca de 14 horas… e tínhamos pela frente (ainda) uma das partes mais duras do percurso!!!

Apesar das dificuldades e exigências do percurso… que são inegáveis!... estávamos com boas sensações e a palavra “gestão de esforço” esteve sempre na nossa mente!.. Contudo… na ideia do Mike, estivemos quase sempre atrasados!!! Tinha que dizer isto!!! O homem… cada vez que parávamos… ou comia um ovo cozido ou dizia que estávamos atrasados!!! Ehehehe…. Um desabafo!! Foram bons momentos…

Após a passagem pela Praia Fluvial da Aldeia Ana de Aviz, começamos a subir gradualmente em busca (novamente) das cumeadas que nos iriam levar de volta à Lousã. Numa primeira parte percorremos uma cumeada com vegetação, num carrossel de sobe e desce que nos levou a uma zona bem mais dura (provavelmente a mais dura deste 1º dia), o Parque Éolico de Castanheiro de Pêra, onde as longas e acentuadas subidas nos proporcionaram “alguma” sensação de cansaço… e paisagens magníficas! À nossa direita tinhamos a companhia de toda a extensão do Vale da Ribeira de Pêra e à esquerda o Vale da Ribeira do Alge… ao centro, em subida constante, íngreme e por vezes a apelar ao espírito de sacrifício, nós (duo homem-bicicleta)… e as enormes torres aerogeradoras do parque eólico.

O track do Geo-Raid dita o abandono do estradão esbranquiçado e gravilhento numa cortada à esquerda… quase sumida de tão pouco uso ter! Era o fim (desejado) de uma sucessão loooooooonnnnga de subidas a rondar os 23Km’s! Épico! Daqui seguiram-se vários Km’s planos, na cota dos 900 metros de altura, fazendo esquecer um pouco o cansaço sentido pelo acumulado de km’s e desníveis efectuados até aqui!

Com o deixar para trás dos aerogeradores, depressa nos embrenhamos novamente na vegetação da serra e agora com a pendente descendente, os azimutes estavam virados para o destino Vila da Lousã. Ervideira e Catraia foram lugarejos por onde ainda passámos… para depois encetar em velocidade de cruzeiro a derradeira e fascinante descida constante de 12Km’s até à Lousã, uma descida menos técnica, mais relaxante e rolante, já a pensar no dia 2 do Geo-Raid.

A meio da descida encontra-se a cortada para as perdidas Aldeias do Xisto - Talasnal, Casal Novo e Chiqueiro, aldeias cravadas na serra, onde o acesso é limitado a grande parte dos veículos ligeiros. Mais à frente encontramos o Miradouro da Tarrasteira, que nos permite ter a primeira sensação de missão cumprida, uma vez que vislumbramos a vila que nos viu partir de manhã bem cedo… serra adentro!

Chegámos ao nosso quartel-general - Residencial Bem-Estar, com 7horas e 16minutos de pedalada nas pernas, 99Km’s de caminhos e trilhos que nos levaram a conhecer e descobrir a magia de aldeias, lugares e paisagens escondidas no maciço Sul da Serra da Lousã. Quase 2900 metros de acumulado… e de sensações de evasão e plenitude, onde o espírito de equipa e união foi… mesmo… muito forte!

Obrigado FMike… por teres partilhado estes momentos comigo.

O tempo é agora de descanso e de recuperação muscular… amanhã vamos mergulhar no Dia 2 do Geo-Raid Lousã- Aldeias de Xisto.


5 comentários:

  1. Isto sim é qualidade de vida!!!alias, queria dizer BTT Puro e Duro. Parabéns pela proeza, pelas fotos, e principalmente pela descrição que está simplesmente perfeita.
    Que tudo vos corra bem até final.
    Força.
    1 abraÇo.

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  2. Mas que bela aventura, estão de Parabens os dois isso é que é ter força nas canetas também podera a comer tantos ovos cozidos , acho que era interessante divulgarem qual foi a logistica que levaram para esse tipo de aventura tanto de material para as bikes como de alimentação.

    Um Abraço,

    Marcello Silva

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  3. Olá Pessoal!
    Desde já o nosso obrigado pelos comentários!

    Em resposta ao Amigo João Afonso... obrigado pelo elogio da descrição! Sabes... gosto de escrever... às vezes abusando do pormenor... para mais tarde, regressar, reler e reviver grandes momentos. É também para vós, leitores e amantes da modalidade que escrevo... partilhando!

    Em resposta ao Amigo Marcello Silva, a minha bagagem de cintura e bike era igualmente composta para os dois dias. Passo a descrever:

    - 4 Sandes (3 delas com Ovo mexido + Salsichas (1ºDia) e Ovo Cozido + Atum (2º Dia);
    - 4 Barrinhas ricas em Hidratos de Carbono;
    - 2 Bananas;
    - 2 Gel;
    - 1 Marmelada;
    - 1 Suplemento Hiperpróteico;
    - 1 Bidon 0,75 de Água;
    - 1 Bidon 0,75 de Powerade;

    PS: Nos dois dias sobrou-me cerca de 1/3 da carga! Mas... mais vale prevenir que remediar!

    Em termos de material de apoio, dividimos algum material pelos 2 aventureiros. A mim coube-me:

    - 1 Câmara de Ar com Líquido Anti-furo;
    - 1 Kit de Ferramentas de Bolso;
    - 1 Cabo;
    - 2 Elos de Corrente;
    - 1 Kit de Remendos;
    - Máquina Fotográfica;

    PS: Do material de apoio apenas usamos e abusámos da Máquina Digital... felizmente!

    Acho que me faltam algumas coisas... mas não recordo o quê!?!?!

    Abraço a todos...

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  4. é com prazer que vejo amigos destas andanças nestas aventuras. de louvar e invejável. sorte e força na verga, são os meus votos. venham direitos.
    abraço
    Pinto Infante

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  5. Amigo Pinto Infante...

    Muito Obrigado pelo teu apoio incondicional!
    É muito bom receber a "vossa força".

    Obrigado
    Abraço

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