14 de abril de 2010

Geo-Raid Lousã - Aldeias de Xisto - Dia 2

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7:00
- DING… DONG… DING… DONG… sete vezes…
- Xiça! Mas que raio quem é que se levanta assim cheio de vontade de dar ao badalo?? O Padre?? Logo havia de calhar o sino da Igreja bater aqui bem por cima da minha cabeça… E agora?? Quem é que dorme?? Isto é ou não é a Pensão Bem Estar??

7:15
- É melhor começar a pensar em abrir os olhos… um de cada vez… afinal acho que me espera outro dia de Geoqualquercoisa… Ná… Isso era o pesadelo em que estava a sonhar… acordado…

7:20
- A perna do meio começa a querer ir até ao WC do outro lado do quarto… Xiii tão longe! É preciso que as duas irmãs pernas de cada lado também queiram ir… não me parece…
- A perna esquerda não denota sinais de vida… mau… mau…
- A direita começa agora a mexer qualquer coisita… ui…ai… ná, ná… esta não é a minha perna…
- Acho que vou ter de chamar a equipa do INEM para me dar uns choques para estas meninas voltarem à vida… Será que têm massagistas tailandesas no staff??

7:25
- Depois de uns ameaços de divórcio com a parte debaixo do meu corpo, a custo coloco as duas pernas no chão… afinal parece que ainda estão vivas… o rabo também começa a dar sinais de reabilitação, apesar das trabéculas estarem ainda bastante moídas… pareço o gajo a quem depilaram os tintins… caminho tal e qual um cowboy… aberto… escanchado...

7:30
- Esboço um sorriso amarelo enquanto olho para os instrumentos de tortura que esperam por mim… sapatos, calções, jersey, capacete e camel-bak de 10 kilos… espera-me outro dia a trepar serras tal qual um cabrito montês… só não dou é lã... ainda… mééééééé (rda!)

7:40
- Pé ante pé para não acordar a malta que fica ainda no vale dos lençóis – que inveja! - lá saio do quarto de tábuas que rangem em direcção à sala de pequenos almoços… são dois andares de escadas para descer… será que consigo lá chegar sem cair de borco na alcatifa e acordar a pensão toda??
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7:50
- Consegui, consegui!... afinal as pernas arribaram qualquer coisita… bastou falar numa massagem patrocinada pela Maria logo mais à noite e pronto reanimaram-se… as três!... (isto não era para dizer....)

7:55
- Depois de sorvidos dois papo-secos que souberam a filet-mignon, o meu companheiro de aventuras saúda-me com palavras que emanam um perfume a empeno… "vamos lá ao 2.º dia do Geoqualquercoisa!"

Geo-Raid Lousã - Dia 2

Pois era assim que pensava sentir-me na manhã do 2 dia do Geo-Raid da Lousã, depois de um primeiro dia pleno de emoções, bons momentos, excelentes paisagens e, é claro, um apreciado e glorioso empeno.

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Mas não… A energia de ir viver uma aventura quase tão intensa quanto a do dia anterior tira as dores, as incertezas, as dúvidas, potenciando o corpo e a mente para mais um dia pleno de evasão e plenitude em perfeita sintonia com a natureza imensa que a Lousã alberga e partilha com quem se atreve a percorrer os seus exigentes trilhos. O cansaço é só mesmo um estado de espírito… invertível, contrariável!

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Dizem os "entendidos" nestas coisas georadianas que o 2.º dia do Geo-Raid da Lousã tem um percurso mais curto, conservando no entanto os desníveis igualmente acentuados e algumas dificuldades técnicas ao longo do percurso, e que, associadas ao cansaço acumulado da etapa do dia anterior, tornam ainda mais importante o espírito de entreajuda da equipa, o gerir do esforço e o planeamento criterioso para se conseguir chegar ao fim com um sentimento de missão cumprida, ainda que seja uma “missão” de aventura e pleno regozijo pessoal de puro BTT na natureza quase virgem daquelas paragens.

08:10 h da manhã e já estávamos em pleno centro da Lousã a tomar a dose cafeínica, pois o track estudado com pormenor revelava a quase completa ausência de aldeias, pessoas e… cafés onde pudéssemos matar esse vício e daí logo ali termos começado a aventura… com cafeína! Bem íamos precisar dela logo no início!

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O track serpenteava ao longo da vila Lousã como se de uma volta de aquecimento fosse pois esperava-nos uma nova abordagem à serra por caminhos totalmente diferentes do dia anterior, mas igualmente em rampa de subida, desta vez dos 180 até aos 1200 metros de altitude. Esperavam-nos assim 20 km's de subida contínua até ao alto do Trevim! Se no primeiro dia aos 7 km's já tínhamos 550 metros de acumulado, no 2.º dia não iríamos ficar atrás…. Aos 8 km's igualmente já cá cantavam outros 500 metros…

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A subida começa lenta, com pendentes sofríveis e trilhos com bom piso, serpenteando ao longo da encosta rumo às imponentes eólicas lá bem no cimo. Contudo o 2.º dia tinha mais um convidado a fazer-nos companhia – o Sr. Vento, muitas vezes furioso e em rajadas, o que tornou a subida um pouco mais difícil. Pouco a pouco os telhados de Vilarinho começavam a ficar cada vez mais distantes e pequeninos, abrindo a paisagem sem limites aos nossos olhos, que arregalados, faziam-nos esquecer o hipotético cansaço acumulado.

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Enquanto serpenteávamos ora por entre pinheiros nórdicos, zonas de floresta de folha caduca e zonas desmatizadas após abate selectivo de eucaliptos, íamos vendo o Trevim a aproximar-se cada vez mais, tendo por som de fundo o ruído das pás das eólicas, tal era a força do vento que se fazia sentir. Suplantada a zona de floresta, enveredavamos agora nas cotas superiores (800 m) intensamente dominadas pelo mato rasteiro – urze, carqueija e o tojo, surgindo alguns troços do trilho bastante degradados pelo Inverno rigoroso deste ano, com muita pedra xistosa solta. Estávamos nos 15 km's e era tempo de vitaminar o corpinho…. “Ora sai lá mais um ovinho cozido aqui para a mesa do canto!”

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Entrávamos agora no estradão criado pelo parque eólico que nos levaria aos 1204 m do Trevim sendo coroado o nosso esforço com uma das mais bonitas visões paisagísticas que já tive. O município da Lousã tem um bom descritivo da mesma.

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- “Do Pico do Trevim abrange-se um dos mais vastos, senão o mais vasto panorama que das serras de Portugal se pode abranger. Para quem está voltado para o Sul é esse panorama limitado pela Serra do Muradal, Serras de Vila Velha de Rodão e Mação, Alto Alentejo, Serra de Aire, Serra dos Candeeiros, o Mar e a Serra da Boa Viagem (Figueira da Foz); e para quem se volta para o Norte os limites são o Mar, o Buçaco, o Caramulo, o Montemuro, a Estrela, a Gardunha, até se encontrar de novo a Serra do Murada, que limita pelo noroeste a região de Castelo Branco.Dentro desta extensa região, que deve ser sensivelmente um terço de Portugal continental, vêem-se Coimbra, Montemor, Figueira, Miranda, Anadia, Cantanhede, Penacova, Poiares, S.tª Comba Dão, Tondela, Oliveira do Hospital, Nelas, Mangualde, Fornos, Gouveia, Cernache do Bonjardim, etc., e centenas de outras mais pequenas povoações. Junto à Serra, mil e tal metros mais abaixo, as veigas da Lousã, Miranda e Góis, e para sul o vale da Ribeira de Pêra, onde as povoações se encostam umas às outras: Castanheira, Coentrais, Sernadas, Sapateira, Bôlo, Vilar, Troviscal, etc.”

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Isto contado é bonito, mas eu atrevo-me a dizer que só visto, presenciado, lá no sítio, é que podemos ter esta sensação de grandiosidade a dominar-nos a alma… lindo, lindo!

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O vento contudo quase que nos levava, pelo que era tempo de dar início à descida até à cota dos 900 metros, bem mais serena, onde iríamos fazer um bonito estradão pelo belo vale do Coentral para conquistarmos de seguida o segundo pico do dia - Sto. António da Neve.

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Depois de alguns Km's nesta cota começa então a subida que nos leva novamente quase até aos 1180 m, primeiro por trilhos xistosos de pedra solta, sempre penitentes e depois pelas “autoestradas” das eólicas até chegarmos à pista do aeródromo mais alto do país, que quase domina o pico de Sto António da Neve. E aqui novamente a paisagem nos domina, tolda e engrandece a alma… simplesmente magnífica!

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Ali ao lado ainda nos entretemos a visitar os famosos poços de neve existentes neste local, os Neveiros Reais de Sto. António onde era produzido no séc. XVIII o gelo para Lisboa. Bem próximo destes depósitos de xisto existe ainda uma antiga e bonita capela aí construída em homenagem ao santo e aos muitos homens, mulheres e crianças que ai trabalharam ao longo de 200 anos.

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Estavam assim percorridos 30 km's e quase 1500 metros de acumulado, pelo que agora era tempo de descer, ao longo de descidas vertiginosas, cheias de adrenalina, a fazer-me lembrar alguns amigos que aqui iriam gostar de estar e desfrutar ao máximo delas.

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Sempre rodeados de frondosos bosques descemos até um dos mais belos locais desta serra, o planalto de Aigra Velha, onde fomos brindados por uma magnífica vista sobre a serra de Sacões e a Mata do Sobral, dando este planalto o nome à primeira Aldeia do Xisto que iríamos visitar no dia de hoje. Como eram horas de almoço e era ali o único ponto de água conhecido ao longo do track, decidimos ali mesmo abancar e comer… mais um ovinho cozido pois então!

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Repostas as energias no corpinho, esperava-nos nova descida bem divertida até a Aigra Nova, mais uma bonita e bem recuperada Aldeia do Xisto mas igualmente deserta, onde nem um sussurro se ouvia… que pena… ia mesmo bem um cafézinho! A descida continuava, agora em mata de eucaliptos ao longo de alguns km’s de ganchos sucessivos entre a muita vegetação, cruzando aí a estrada 342 que liga a Lousã a Góis.

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Era altura de nos embrenharmos na Mata do Sobral, na encosta da serra do Sacão, e percorrermos alguns quilómetros numa paisagem completamente diferente onde os pinheiros e a urze dão lugar aos sobreiros, à giesta e ao medronho. Até o trilho é diferente, onde o xisto dá lugar à rija pedra quartízitica, aqui bem penosa para os nossos punhos onde nem as Fox conseguiam absorver toda aquela trepidação… duro mesmo!

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Depois de alguns km's bem abanados chegamos então ao Miradouro da N. Sra da Candosa, onde tivemos uma vista privilegiada sobre todo o vale do Rio Ceira, com as imponentes fragas bem à nossa frente.

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Esperava-nos agora uma descida, bastante técnica, escorregadia e cheia de troncos caídos que nos obrigou a um “passeio pedestre” até à margem do Ceira, num ponto onde pensávamos que seria possível a travessia do rio, segundo o track. Contudo o Inverno pregou-nos mais uma partida! O caudal de água era proibitivo, correndo o risco de sermos levados pela extrema força e volume do rio.

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Das duas uma - ou voltamos atrás e descobríamos uma ponte que estava 2 km's mais abaixo ou improvisávamos… A sorte protege os aventureiros! Um grupo de escoteiros treinava a passagem das fragas com recurso a uma canoa insuflável e rapidamente pedimos uma “boleia” para a outra margem. E como bons escoteiros cedo se prontificaram a nos ajudar. E lá fomos nós de canoa com as bikes em cima, numa aventura plena de momentos inesquecíveis… este foi mais um – Obrigado Grupo de Leiria!

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Esperava-nos agora um espectacular single-track ao longo das margens do Ceira que nos levaria a Serpins, onde num velho moinho restaurado tomamos uma dose cafeínica para os últimos km's dos trilhos que nos conduziriam à Lousã, desta vez acompanhando o trajecto da linha de caminho de ferro, entre hortas e campos de cultivo, até à rotunda de entrada da Lousã.

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Chegávamos assim ao centro da vila, com quase 70 km's e 1900 metros de acumulado, desfrutados ao longo de 5 h e 15 minutos, cansados é certo, mas com o corpinho cheio de bons momentos e emoções em duas rodas e muitas e bonitas imagens registadas no profundo da nossa consciência.

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Obrigado amigo JValente… pelo desafio que me lançaste, ao propores-me para teu companheiro “georaidano” em mais esta aventura BTTHAL, sem dúvida uma das mais emblemáticas e inesquecíveis em que já participei! Valeu bem a pena! Venham as próximas!

6 comentários:

  1. Xiça voçes fartam-se de escrever, é assim mesmo que belos relatos e que boas fotografias essa serra deve de ser divinal , Parabens pela aventura e ainda bem que correu tudo bem sem acidentes, dois pontos altos o do papa ovos e a travessia de kayak no ribeiro.

    Um Abraço,

    Marcello Silva

    Já agora ,acho que deviam de fazer um post a parte no vosso blog com as melhores fotografias porque realmente algumas são mesmo anti stress

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  2. Marcello... obrigado pelo teu comentário! Sem dúvida que este segundo dia teve como ponto mais alto a Travessia do Rio Ceira em Kayak... uma vez que foi uma situação não programada! Mas em termos de BTT, nada ficou atrás do 1º Dia.

    Em relação à sugestão que fazes, vamos optar por guardar este cantinho para escrevermos todas as crónicas relativas às aventuras épicas do Geo-Raid... e se formos a analisar ainda serão algumas que teremos pela frente! Estrela, São Pedro do Sul,... Montalegre (quem sabe...)

    É que quando falas das melhores fotografias... para nós são todas "melhores"... todas têm um pouco do nosso suor!!

    Abraço
    João Valente

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  3. Parabens aos Dois GRANDES AVENTUREIROS. Nem sabem a inveja que me fazem, mas para mim seria quase impossivel obter a permissão da Maria para quatro dias com a amante (Bike). Quatro, pois o que voçês fizeram num dia para mim terai que ser para dois, num total de quatro. A reportagem tanto do primeiro como do segundo dia, sempre espetacular como voçês nos têm habituado.
    Faltaram as single speed no 2º dia, porque o equipamento estava lá ou não?
    Um abraço.
    Fidalgo

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  4. Olá Fidalgo!
    Obrigado pelo teu comentário!

    Na verdade as "Marias" não ficaram em casa, foram mesmo connosco, com percursos turísticos previamente preparados para elas! Tudo vai de uma preparação prévia (loooonga!!!Ehehehe...) das situações... e do facto de elas entenderam a importância destas aventuras para nós!!!

    Quanto aos equipamentos... sim, foram os Jerseys Single Speed...que na verdade não andou lá muito longe da realidade... foi pedaleiro pequeno sempre em força!!! Eheheh...

    Abraço
    João Valente

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  5. Bonita aventura!!!
    Benvindos à F1 do Btt...a aventura,a adrenalina,a natureza,o turismo.
    Que seja a primeira de uma infinidade delas.
    Aqui estarei para ler os v/relatos e quem sabe...partilhar algumas delas.
    Abraço
    AC

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  6. Sr. Cabaço, agradecido pelo seu comentário!

    Eu não díria uma infinidade delas... pois às vezes quantidade não é qualidade... mas algumas aventuras loucamente saudáveis, isso sim, esperamos cumprir e aqui partilhar neste cantinho!

    Abraço
    João Valente

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